June 21st, 2007XP 2007 – Dia 3
Muitas coisas aconteceram no último dia da main track: painel de discussão sobre certificações, artigos cientÃficos, painel de discussão sobre “melhores práticas”, DSLs e keynote do Kent Beck. No terceiro dia de conferência diversos tópicos foram abordados e, daqui pra frente, participarei apenas de tutoriais e workshops, então espero que a densidade dos posts diminua :-)
Painel de Discussão sobre Certificação
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Certificação no mundo ágil é um assunto que está na moda. A Agile Alliance anunciou recentemente sua posição sobre o assunto; Scott Ambler colocou sua opinião a favor num artigo da DDJ; além disso, muitos debates vêm acontecendo nas diversas listas de discussão, como scrumdevelopment@Yahoo, extremeprogramming@Yahoo e na nossa XP@Rio. A opinião dos participantes do painel estava dividida entre:
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- Contra: Joshua Kerievsky e David Hussman
- A Favor: Jeff Patton e Boris Gloger
- Em cima do muro: Rachel Davis, representando a Agile Alliance
Uma das grandes discussões girou em torno do Certified Scrum Master. Joshua e David argumentaram que é um excelente treinamento (eu concordo), porém dá um tÃtulo muito poderoso (para o observador desatento) para um curso de 2 dias sem uma prova no final. Em outras palavras, empresas procuram SCMs sem saber o que eles tiveram que fazer para se tornar um (está escrito na descrição do curso na Scrum Alliance). Do outro lado o Boris argumentou que, apesar de ser sim uma ferramenta de marketing (muito eficiente, por sinal), foi um programa que propiciou a criação de uma enorme comunidade interessada no Scrum e que, de uma forma ou de outra, contribuiu para o aumento na adoção dos Métodos Ãgeis na indústria. Sobre esse tópico, estou um pouco mais pendente pro lado contra (apesar de ser um SCM) devido à fragilidade da nossa indústria. Infelizmente as empresas buscam profissionais certificados sem saber o que os torna certificados. Apesar disso, concordo com o argumento do Boris de que a formação de uma comunidade é importante. Acredito que uma estratégia de longo prazo para popularização dos Métodos Ãgeis não deve ser tão ambiciosa a ponto de querer atingir quantidade e qualidade ao mesmo tempo. Olhando por esse lado, acredito que é mais fácil (e natural) conseguir a quantidade antes da qualidade. Por isso, acho que os treinamentos de SCM são importantes.
Dentre outras discussões sobre o tema, surgiu a idéia de ter uma “certificação” ágil mais parecida com o que fazemos na universidade: um curso muito mais longo, muito mais abrangente e que fornece uma base comum de conhecimento para que o aluno possa evoluir. Quando um aluno se forma na graduação, não espera-se que ele saia totalmente proficiente. Existe um consenso de que a experiência trará benefÃcios. Gostei dessa idéia de uma “faculdade ágil”. :-)
Outro ponto interessante da discussão foi a separação entre habilidade e certificação (ou treinamento). Ter uma certificação ou participar de um treinamento não é garantia de que o participante irá adquirir a habilidade necessária. Isso pareceu ser consenso. O único ponto do Joshua foi que ele prefere chamar isso de treinamento ao invés de certificação, pois é mais realista. Por outro lado, o Boris argumentou que qualquer programa de certificação gera um mercado mais atraente para empresas.
Outros assuntos interessantes foram abordados na discussão, mas esse espaço é muito curto (e minhas anotações muito sucintas) para expor de forma adequada. Acho que a discussão está boa e deve continuar…
Artigos CientÃficos
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Após o debate, houve uma sessão de apresentação de artigos cientÃficos, dentre eles o meu. Confesso que fiquei um pouco nervoso por ter que apresentar em inglês e um pouco mais nervoso quando vi o Kent Beck na platéia. Mas isso passou assim que comecei a falar (como costumava acontecer quando tinha que tocar piano na frente dos outros.. he he) e acho que correu tudo bem. Após a sessão fui conversar com o Kent Beck (sobre outro assunto) e ele me disse que gostou da minha apresentação, o que me deixou muito orgulhoso :-)
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Dentre os outros papers apresentados, teve um que não gostei (nem o Boris.. he he) sobre um meta-modelo para modelar e medir a eficácia de processos ágeis. O exemplo usado foi o Scrum e me pareceu uma tentativa de fazer um framework-de-processos(RUP)-ágil-genérico, onde outras metodologias ágeis poderiam ser “instanciadas”. Enfim, não deu pra entender muito bem a motivação para usar aquilo (e eu também tenho um certo preconceito quando começam a falar de processos com caixinhas parecidas com UML, setinhas e coisas <<entre sÃmbolos estranhos>>).
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Por outro lado, os outros dois papers foram bem mais interessantes. O primeiro foi sobre o FitClipse, um plugin do Eclipse para execução e edição de testes de aceitação do FIT. Ele roda em cima do FitNesse e permite a distinção entre testes que falham por motivos aceitáveis (ainda não foram implementados) ou por motivos inaceitáveis (já foram verde e ficaram vermelho depois de um tempo), além de mostrar uns gráficos bonitinhos. O outro foi sobre o EzUnit, uma extensão do JUnit que permite a identificação mais precisa de qual pedaço de código pode ter causado uma falha. O framework permite a definição do(s) método testado(s) (Method Under Test ou MUT) com anotações (isso achei estranho) ou, para quem é preguiçoso como eu, escreve as anotações através de análise estática e dinâmica do código. Gostei da idéia, mas não tanto dessa parte das anotações/análise estática. Concordo com o comentário do Kent Beck no final de que a análise dinâmica, associada aos deltas das mudanças efetuadas mais recentemente, dão uma informação muito boa sobre onde uma possÃvel falha pode estar localizada. Além disso, linguagens dinâmicas não permitem análise estática de qualquer forma. Acho/espero que no futuro vamos usar testes unitários como “compiladores” e ferramentas como essa podem facilitar a vida.
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Painel de Discussão sobre “Melhores Práticas em Software”
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Antes de mais nada, uma colocação da Mary: “Não existe uma MELHOR prática”. A partir do momento que consideramos algo como o melhor, deixamos de pensar em formas de melhorar, afinal de contas já temos O MELHOR. Muito bem colocado e os presentes no painel concordaram: Giancarlo Succi, Jutta Eckstein, Robert Beedle e Yael Dubinsky.
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Os “painelistas” (como se escreve isso em português?) mostraram uma preocupação na definição e escolha de práticas muito técnicas. A agilidade propõe aspectos humanos que dificilmente são expressados em práticas especÃficas. Por outro lado, medir e avaliar a adoção de princÃpios e valores é complicado. Robert Beedle defendeu o ponto de que a prática mais importante é a colaboração. Ela inclui os valores humanos e dirige o resto do processo na direção certa. Segundo ele, sua primeira impressão sobre XP foi positiva pois servia como uma ferramenta cognitiva para compartilhamento de conhecimento que, mesmo sem saber explicar muito bem como, fazia com que as coisas certas acontecessem. Em outras palavras, se você seguisse as práticas (e suas sinergias e valores embutidos), você seria capaz de dirigir a produção do software certo, ao contrário da abordagem da engenharia de software tradicional que busca a forma certa de produzir software. Produzir certo vs. Produzir o software certo. Conceitos bem diferentes.
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Por fim, houve uma discussão sobre como medir o sucesso nos projetos. O Giancarlo defendeu o ponto de que é preciso utilizar métricas e objetivos claros para avaliação do sucesso. Num debate sobre o valor de métricas quantitativas e qualitativas, Robert Beedle disse que para medir o lado humano dos Métodos Ãgeis, métricas qualitativas são a única solução. Por outro lado, Giancarlo disse que é mais fácil entender dados quantitativos, apesar de serem facilmente manipuláveis ou mal-interpretados.
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Birds of a Feather: Domain Specific Languages – Emily Bache
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Apesar de não constar na programação oficial, a Emily havia mandado uma proposta de workshop que foi recusada e, mesmo assim, decidiu fazer uma sessão aberta para interessados em discutir DSLs. Eu achei muito louvável a atitude e, como não programaram nenhum Open Space na conferência desse ano, também demonstrou o poder da comunidade em adaptar o programa e compartilhar conhecimentos.
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Nesse workshop, discutimos o conceito de uma DSL que, para minha surpresa, não era consenso. Eu ainda não tive muitas experiências utilizando uma DSL numa situação onde precisei de verdade, a não ser na definição de testes de aceitação. Porém, como disse para os participantes, já houve momentos na minha carreira (antes de saber o que era XP) onde consigo ver uma DSL ajudando a diminuir a distância entre especialistas e programadores. Após diversas discussões surgiram alguns aspectos do que seria uma DSL:
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- Uma DSL deve maximizar a densidade semântica: em outras palavras, dependendo do público-alvo (os especialistas no domÃnio), usar muitos parênteses e sÃmbolos de programação podem atrapalhar a legibilidade (particularmente em DSLs internas).
- Uma DSL deve ser executável: isso inclui a habilidade de edição e execução na frente do especialista do domÃnio, trazendo feedback imediato.
- Deve ser fácil e rápido alterar uma DSL: em outras palavras, o especialista de domÃnio deve ser praticamente capaz de escrever na DSL (ler é mais fácil que escrever).
Ainda no tópico da densidade semântica, houve uma pequena discussão sobre se uma DSL deve ou não ser obrigatoriamente legÃvel para o cliente (ao invés do programador). Nesse caso, o rake não seria uma DSL.
Keynote de encerramento: Ease at Work – Kent Beck
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Para não tornar um post longo ainda mais longo, não vou me estender muito sobre esse keynote. Kent Beck é O CARA. E dessa vez, ao invés de falar sobre aspectos técnicos, metodologias ou empresas, ele deu uma palestra quase como psicólogo (tudo bem que a esposa dele é psicóloga), para tentar fazer-nos refletir sobre nosso papel como programadores e como encaramos nosso trabalho. Em outras palavras, como fazer com que possamos nos sentir bem com nossas qualidades e defeitos?; como conviver e aceitar que não estaremos sempre no auge ou na lama?; como sair do trabalho com a consciência tranquila de que demos nosso melhor?; Como sustentar mudanças?; Como sermos mais responsáveis e transparentes no trabalho?
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Como disse, espero que o post de amanhã seja mais resumido pois também cansa escrever esses relatos… brincadeira :-)
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June 21st, 2007 at 11:07 am
Não tem nada a ver com o assunto, mas desse aqui você vai gostar:
http://www.scottberkun.com/blog/2007/asshole-driven-development/
Nada como um pouco de humor pra deixar a Itália mais várzea.
June 21st, 2007 at 1:40 pm
Hmm… eu espero que o post de amanhã seja ainda maior. É ótimo pode saber o que está acontecendo por aà ;)
June 23rd, 2007 at 4:06 am
Danilo,
Primeiramente, parabéns pelos relatos. Estão sendo muito úteis.
Com relação ao que o Boris falou, sobre a certificação ter ajudado a criar uma grande comunidade em torno do Scrum, acho que não há dúvida disso. Minha dúvida é apenas se precisamos de certificação para atingir esse tipo de coisas.
Veja o caso do XP, a lista internacional de XP tem 8730 membros. A de Scrum tem 4485. Ambas são grandes comunidades. O detalhe é que a de XP tem quase o dobro de membros, embora seja apenas um mês mais antiga que a do Scrum e não exista certificação para XP. Interessante, não?
Abraços, VinÃcius.
June 23rd, 2007 at 12:56 pm
Pessoal,
Obrigado pelo apoio! Fico feliz em saber que estão sendo úteis.
VinÃcius, você colocou um bom ponto. É bom saber que existem outras formas de montar uma comunidade. Outra coisa que vale a pena comentar sobre a lista internacional de XP é a colaboração. Ao contrário de muitas outras listas que participo, raramente vi guerras de e-mail ou pessoal mal-educadas. Acho que esse espÃrito de colaboração é outro fatro importante para a criação dessa comunidade (tanto que o Kent Beck cita a comunidade na nova definição de XP).
Abraços, Danilo